30 de junho de 2010

Aqui começa o inferno! - Entrevista com Zumbis do Espaço (SP)

A principal atração do Zoe Cultural vai tocar neste sábado, 3 de julho. A banda paulista Zumbis do Espaço tem conquistado uma legião de fãs em todo o Brasil durante quase 15 anos de carreira por sua mistura de música country e punk rock com temática de horror como provam as letras. São seis álbuns de estúdio lançados, dois ao vivo e um dvd com a gravação de um show que dá uma mostra do que é o Zumbis ao vivo. A formação atual conta com Tor nos vocais, Gargoyle no baixo, Machado na guitarra e Zumbilly nas baquetas.

Assim como muitos que estão ansiosos pelo festival, sou fã confesso da banda, e me propus a fazer esta entrevista com o Tor para aumentar a ansiedade dos outros fãs e apresentar o Zumbis do Espaço para quem infelizmente ainda não conhecia. Até agora...
zumbis do espaço na melhor fase

Matarte: Explique como foi a origem da banda e a idéia de misturar temáticas de quadrinhos, literatura e filmes de terror com som punk e country?

Tor: A banda começou em 95/96, e na época todos nós estávamos bem envolvidos com esse tipo de música e todo esse movimento de filmes de terror, quadrinhos e rock sujo, e como nunca gostamos de bandas panfletárias e politicamente corretas, que era a tendência no começo dos 90, resolvemos fazer as coisas ao nosso modo.

Matarte: Vocês já sofreram algum tipo de intolerância por causa da proposta de horror e letras que falam de morte e demônios?

Tor: Não, mesmo porque eu não gosto de bandas e desse discurso de perdedor, tão comum no rock independente e no underground de se vitimizar e achar que tudo é difícil. Na verdade, a única coisa difícil é fazer musica boa e se manter na estrada. Para o resto eu estou me cagando...

Matarte: O Zumbis é uma banda que já viveu muita coisa dentro do cenário underground punk/hardcore. Hoje em dia a gente percebe a mídia especializada dando cada vez mais atenção ao cenário independente, e muitas bandas já reconhecem que podem ser bem sucedidas dentro deste contexto. No seu ponto de vista, o que mudou da virada dos anos 2000 pra cá?

Tor: As passagens aéreas estão mais baratas e existem menos bandas boas hoje em dia, mas temos algumas casas e produtores confiáveis pelo país, mas eu acho que só ficaram bandas que realmente tenham alguma coisa pra mostrar.

Matarte: A Thirteen Records já lançou Crazy Legs, Forgotten Boys, Rock Rocket, entre outras bandas além do próprio Zumbis. Percebi que nos últimos anos o selo tem se focado em lançar somente o Zumbis. O que aconteceu e como estão os projetos do seu selo?

Tor: O download ilegal inviabiliza qualquer tipo de novos lançamentos. A internet, ao contrário do que muitas pessoas acham, está acabando com a musica. Se uma banda dá sua musica de graça, ela ou é estúpida ou não se acha boa o necessário pra que alguém compre sua musica.

Matarte: Comente sobre os álbuns do Zumbis, o material que estará disponível para compra no show, e quais são os próximos lançamentos..

Tor: No momento, estamos relançando todos nossos álbuns em versões digipack com bônus e liner notes e em vinil limitado. Acreditamos que a musica é mais que um arquivo sem qualidade. Os primeiros CDs relançados foram o Aqui Começa o Inferno e o Horror Rock Deluxe, e o vinil do novo álbum Destructus Maximus. No segundo semestre, será relançado o digipack do Aberrações que Somos, e o vinil do Abominável Mundo Monstro. Pretendemos continuar levando a Destructour ao máximo de lugares possíveis e então preparar seu sucessor, que com certeza será mais destruidor.

Matarte: Fiz essa pergunta pro Mozine e agora repito pra você: já são quase 15 anos de banda, e com o valor do cachê muito acessível. O que faz vocês terem motivação para continuarem se dedicando ao Zumbis do Espaço após tantos anos de atividade?

Tor: Gostar do que faz e, principalmente, fazer direito.

Matarte: Existe alguma proposta ou idéia do Zumbis em lançar uma revista em quadrinhos como fez o Matanza, ou até mesmo em realizar alguma produção audiovisual (além dos clipes, claro) na qual sejam exploradas as referências da banda?

Tor: Nós já lançamos uma revista muito antes do Matanza, em 1996, e se chamava Demonozine. Pensamos sim em relançá-la e lançar novos números; devemos retomar a esses projetos em breve.

Matarte: Como é a sensação de ser vocalista de uma banda com fãs tão fieis que chegam ao ponto de tatuar a banda na pele?

Tor: É ótimo! Admiro e respeito nossos fãs e me sinto abençoado por na minha idade ainda estar fazendo o que eu escolhi pra minha vida.
zumbis 2010 cv
Matarte:
Aqui em Palmas muita gente já conhece o talento do Renato Machado com o Lockfist 669 em suas duas vindas, mas percebi que na comunidade da banda alguns fãs ficaram desconfiados de que o Zumbis fosse ficar mais metal. Afinal, mesmo sem ter participado da última gravação, o que mudou na banda com a entrada dele na guitarra?

Tor: A entrada do Machado melhorou tudo na banda, tanto musicalmente quanto pessoalmente. Estamos na nossa melhor fase da carreira, tocando melhor do que nunca.

Matarte: Ano passado eu mesmo tentei trazer vocês pra Palmas, esse ano o Porkão tentou, e agora finalmente o Festival Zoe vai conseguir realizar o desejo de muitos tocantinenses. Como o Zumbis do Espaço ta se preparando para compensar esse atraso por aqui?

Tor: Estamos ansiosos para tocar em sua cidade e tomar uma cerveja com vocês. Tocaremos todos nossos os clássicos e músicas do Destructus. Vocês vão ver o Zumbis do Espaço na melhor fase da carreira.

Acesse:
www.myspace.com/zumbis777
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=116906

Anote na agenda: Zumbis do Espaço, neste sábado, 3 de julho, no Tendencies Music Bar.

29 de junho de 2010

Festival Zoe Cultural celebra cultura urbana em Palmas

O Festival Zoe Cultural acontece durante os dias 1, 2 e 3 de julho no Tendencies Music Bar, e traz a banda Zumbis do Espaço pela primeira vez à Palmas. O evento é organizado pela comunidade Zoe, que é símbolo de resistência no rock palmense, pois já promovia shows do gênero desde antes da existência do Tendencies Music Bar e do PMW Rock Festival.

A comunidade Zoe e o Pastor Alberto tem todos os méritos por Palmas não enfrentar problemas de intolerância ideológica nos shows de rock como já aconteceu em Gurupi e Araguaína, pois nos eventos realizados por eles na primeira metade desta década, bandas cristãs e não-cristãs eram convidadas para tocarem juntas para o mesmo público, que era carente de rock e ambos aprenderam a se respeitar.

Este ano o festival modificou alguns conceitos e através de ampla programação esta edição tem a intenção de dar espaço para a arte e cultura urbana produzida de maneira independente.

mail_MKT_1

Programação completa do Zoe Cutural:

QUINTA FEIRA, 1 de Julho

00h Capelinos
23h20 Vento Azul
22h40 Aspirais
22h Asteroids 66

20h Exposição de Fotografias e Pintura

As Cores do Barulho, por Emerson Silva (Bento)
Olho-Mágico, por Karla Almeida
Flores Tropicais, por Rodolfo Ward
Desumanidade, por Dudu Carneiro

20h Mostra de Curtas Metragens

Kitnet, O Filme (2006, doc, André Araújo)
Desnuda (2009, fic, Caio Brettas)
Enfim Sós (2008, doc, André Araújo)
Da Banca pra Fora (2008, doc, Yonara Aniszewski)
Ta aí (2006, fic, Antônio Fabrício)
Tattoo – A Tentativa (2009, doc)
Palhaços (2006, fic, Wertem Nunes)

Entrada solidária: 1 kg de alimento

SEXTA FEIRA, 2 de Julho

00h Pilantropia - MA
23h30 Cristo Raiz - GO
23h Maquinários
22h30 Boddah Diciro
22h Casa De Cachorro

20h Mostra de Curtas Metragens

A Produção de um Curta – Apresentando o Copião de João Solidão, André Araújo

Ingressos: R$ 10 para estudante com carteirinha ou ingresso social com 2 kg de alimento

SÁBADO, 3 de Julho

00h30 Zumbis Do Espaço - SP
00h Mata-Burro
23h30 PAX - SP
23h A Baba De Mumm-Ra
22h30 Grimace
22h Poetas Do Caos
21h30 Prenuncia

20h Mostra Itinerante Miragem

- Acervo da Mostra de Cinema e Vídeo de Miracema, organizado por Cássio Cerqueira

Ingressos: R$ 10 para estudante com carteirinha ou ingresso social com 2 kg de alimento

23 de junho de 2010

Hardcore x sertanejo: custos de oportunidade inerentes à escolha em Araguaína

Muitos araguainenses esperavam ansiosamente por aquele sábado. A lendária e mais extravagante das duplas sertanejas, Milionário & José Rico, se apresentaria na Expoara 2010*, evento que contaria logo em seguida com a mais recente (e, pelo visto, maior) ameaça que esse monstro fonográfico chamado sertanejo universitário produziu: o meteórico-da-paixão Luan Santana

Alheios a tudo isso, estavam os poucos araguainenses que demonstram indiferença ou até mesmo aversão a essa longa semana da “Pecuária”, época do ano equivalente ao Carnaval em termos de misantropia e antissocialidade observada no andergraundi lontrino**.

DSC01548Banda araguainense Grimace, que voltou aos palcos durante a Confraternização MOSH

Enfim, não se sabe se foi uma (in)feliz coincidência por parte da TRTL Eventos a remarcação da Contrafernização MOSH , inicialmente com data marcada para o dia 1º de maio, para o dia 05 de junho, justamente no mesmo sábado e mesma faixa de horário que Milionário & José Rico na Expoara. Poderia revelar-se como um gesto de resistência, um desafio ao estabilishment araguainense ou uma grande estupidez, já que haveria uma chance potencial de que o show sertanejo roubasse do Ciriguelas um bom número de frequentadores, dentre eles os próprios organizadores do evento e este escriba, que nunca esconderam o respeito e a admiração que têm pela dupla. Afinal, tratava-se também de um evento de grande relevância no calendário cultural da cidade.

Especulações a parte, quando virei a esquina da 15 de novembro com a Vereador Falcão Coelho e não vi nenhuma movimentação na porta do Ciriguelas às 22:00, horário previsto para o início do evento, a possibilidade do cancelamento do mesmo por conta da irresistível concorrência me veio a cabeça imediatamente. Continuei andando. Passei em frente ao estabelecimento sem sequer parar para ver se tinha algum cartaz anunciando o suposto cancelamento. Ando mais alguns passos, olho para meu lado esquerdo e vejo a Praça Dom Orione repleta de camisas pretas, aguardando pela abertura dos portões.

A informação extraoficial que circulava na praça era de que a principal atração da noite, a banda gurupiense Super Noise, não iria se apresentar. Poucos minutos depois, vejo chegar à porta do Ciriguelas dois integrantes da TRTL Eventos, mas que não estavam diretamente envolvidos na organização daquele evento específico. Os dois não confirmaram nem negaram a baixa da esperada atração intermunicipal, enquanto que a banda substituta já estava passando o som dentro do restaurante.

Nesse momento, eu já imaginava os motivos do não comparecimento da Super Noise na Contrafernização. O primeiro deles seriam os 567 km que separam Araguaína de Gurupi. De imediato não me pareceu ser este o problema. A banda nunca se apresentou em Araguaína, mas alguns dos integrantes lá estiveram quando houve a apresentação da Nose Blend no mesmo Ciriguelas Restaurante. O segundo dos motivos era pura especulação: imaginei que a ausência da banda no evento seria uma represália pelas duas ocasiões em que a Territorial foi convidada a tocar em Gurupi, mas “furaram”. Bobagem minha...

Às 23:00, chegou Osmar da Mota Jr., responsável pela organização. Ele confirmou a informação da baixa, explicando que a banda não viria por conta de compromissos pessoais inadiáveis de seus integrantes, e que a banda que a substituiria seria a novata Chico Doido. Inoportuno oportuno.

As pessoas que ainda estavam na praça foram avisadas que o evento começaria em alguns minutos, e às 23:40, com quase duas horas depois do previsto (vê-se que a “tradição do atraso” também se dá por aqui né, Lidiane?), Chico Doido tocou o primeiro acorde.

A primeira apresentação da banda, que leva o nome de um conhecido carroceiro que virou vereador em Araguaína na legislatura 2005/2008, havia ocorrido há duas semanas antes, no Metal Fight II, realizado - adivinhem onde? - no Ciriguelas Restaurante. Chico Doido causou uma ótima impressão nos presentes com seu punk rock de letras simples que encaram com irreverência os araguainean issues, desde o assistencialismo eleitoreiro televisionado praticado por robustas figuras dos programas policiais (“Chambari”) até outras personagens menos ilustres, como a senhora pedinte que aborda os transeuntes em frente ao Banco do Brasil da Cônego João Lima (“Me Dá Um Real Pra Eu Comprar Um Bolo”), além de standards do punk rock brasileiro (“Papai Noel Filho da Puta”, “Pânico em SP”).

Destaque também para o figurino de Johnny (guitarra/vocal), vestido com a camiseta azul da Escola Estadual Guilherme Dourado, temporada 2007/2008. Apesar de alguns erros pontuais e perdoáveis na execução das músicas e uma certa timidez natural de quem está começando, a Chico Doido conseguiu cativar (acho que esse verbo não combina muito com uma banda punk) o público presente.

Dez longos minutos de passagem de som depois, e já era a vez da H2Y dar prosseguimento aos trabalhos. Criou-se muita expectativa (pelo menos da minha parte) em torno dessa apresentação. Afinal, esperava-se que houvesse alguma evolução trazida pelo amadurecimento natural dos seus integrantes que, desde quando eram mais jovens, na époque d’or dos Garage Rocks em Araguaína e da onda new metal trazida pela MTV, não tocavam músicas autorais e insistiam em covers de System of a Down e Raimundos.

Pois o que se constatou foi que a H2Y continua a mesma de sempre, para o bem ou para o mal. Abriram com uma música lá que eu não sei o nome, emendando com “Chop Suey”, e daí pra frente foi uma sequência enorme de Raimundos. A introdução de clássicos da banda brasiliense ficaram demoradas e totalmente descaracterizadas (por incrível que pareça) com a adição de um triângulo, como em “Eu Quero Ver o Oco” e “Esporrei na Manivela”. Tocava-se esse triângulo por mais ou menos um minuto na introdução, daí o triangulista se retirava do palco e só aí começava a música pra valer.

O público, que naquela altura tinha a sua maioria composta por cristões-novos do underground, se divertiu muito com as covers bem executadas pela H2Y. Houve as rodas de pogo mais intensas da noite, gente pedindo “Aerials”, fanfarrão invadindo palco, casal se exibindo numa “performance” no balcão do bar... O público em geral ficou satisfeito, mas o pessoal das bandas, não. O descontentamento era patente no semblante de alguns. Na descrição da comunidade da H2Y no Orkut eles citam uma frase atribuída a Bob Marley que diz: “Não tocamo (sic) pra agradar os críticos. Tocamos o que queremos, quando queremos e quanto quisermos”. Então tá, beleza...

Logo em seguida foi a vez da Prozac. Essa já era a quarta vez que a banda tocava em 2010 e está confirmada para pelo menos em mais quatro apresentações nesse ano, dentre as quais estão o Festival de Rock da Lua Grande, em Conceição do Araguaia, e o 7º PMW Rock Festival. A banda surpreendeu quando abriu o show com a célebre introdução de “Eye of The Tiger”, da trilha de Rocky III. Presente no imaginário coletivo, as pessoas imediatamente responderam com a simulação de uma luta de boxe com quem estava do lado.

Não se chegou sequer na parte cantada da música, e Diego “Babidi” Silva (baixo) chamou o ex-vocalista Marco “DF” Lima (ex-A Baba de Mumm-Rá) para cantar “Capeta Hardcore”. O repertório apresentou uma sensível mudança em relação às apresentações anteriores: fora a intro de “Eye of the Tiger”, não haviam covers (não que eu lembre), e das autorais executadas haviam muitas que não entraram na demo Caos e Comédia.

Os três se mostraram estarem bem à vontade no Ciriguelas. As falas antes das músicas estão mais descontraídas, o baterista Erik “Preguiça” Veiga subiu no banco e pediu para que a galera agitasse mais. Coisa que, aliás, não aconteceu. Metade do público se deu por satisfeito com as covers da H2Y e se retirou. Entre a banda e o pessoal que ficou, havia um vão onde somente os que estavam com mais disposição batiam cabeça.

Os vocais eram divididos entre Babidi e Ruy “Chapolin” de Araújo (guitarra), que cantaram músicas consagradas do repertório da banda, como “Idiota”, “Odeio”, “Loira do Banheiro”, as cabarezísticas “Maria Cotó” e “Rua do Amor”, além de “Deixa de Frescura, Isso é Rock ‘n Roll”, que ficaria muito melhor se tivesse um vocal mais limpo e inteligível. Uma coisa não mudou: a banda encerrou a apresentação com o tradicional esporro de “Punheta do Cão”.

O último show era o mais esperado pelos die-harders e por aqueles que conhecem a história do punk rock/hardcore araguainense. O Grimace retornou aos palcos anos após o suicídio do seu vocalista original, Magno da Hora. O retorno fora anunciado no começo do ano, mas com nome e formação diferente. A Conspiração Lapichó tinha na formação Gilberto Costa (Herdeiros do Rock, Grimace) nos vocais, André “Cachorrão” dos Santos (Grimace, A Baba de Mumm-Rá) na guitarra, Gustavo “Sarará” Mesquita (Mucosa Anal) no baixo e Sandro Falcão (Psicose, Safari Joe) na bateria. Sarará e Sandro saíram da banda, e para seus lugares foram chamados DF no baixo e Bebel na bateria. Como todos os integrantes já haviam tocado no Grimace nos anos 90/00, fizeram por bem reativar a banda, após pedir o aval aos familiares do falecido vocalista para a utilização do nome, bem como da faixa com o nome da banda que estava em seu poder da família.

A expectativa criada em torno desse momento histórico do nosso underground tocantinense quase vira decepção. As primeiras duas músicas, entre elas o clássico “Bomba Nuclear”, mostraram uma banda nervosa com a reestréia e um vocalista com movimentação tão intensa e imprevisível que beirava a irresponsabilidade. Gilberto era visto cantando em todos os cantos do Ciriguelas, menos no palco, que naquela noite não tinha a grade de contenção. Criou-se uma situação insólita, pois foi perdida a referência do palco, e quando se olhava para trás na procura pelo vocalista, podia ser facilmente surpreendido por uma trombada suada e indesejável.

Passado o nervosismo, mesmo com o microfone do Gilberto falhando a todo momento, a banda engatou uma quinta e tocou um clássico atrás do outro. O público batia cabeça, pulava, dançava e cantava junto músicas como “Cavanhaque”, “Alienação”, “Século XX”, com direito a covers do Psicose. Os presentes pediram bis, e a banda tocou “I Don’t Care”, “Pânico em SP” e uma embromated version de “Anarchy in the UK”.

As caixas se calaram e a luz foi acesa. Com a respiração ofegante, a camiseta encharcada de suor e um sorrisão estampado na cara, saí do Ciriguelas sem o sentimento de culpa por ter perdido o show de Milionário & José Rico, imaginando estar incorrendo num custo de oportunidade enorme. No entanto, na volta pra casa, paro numa conveniência para comprar uma lata de cerveja. Pergunto para um senhor que vinha do Parque de Exposições e comprava cigarros por ali como tinha sido o show da dupla sertaneja. Ele se queixou do pouco tempo de show (cerca de uma hora), sendo que eles “mais conversaram do que cantaram”, opinião essa que era uma constante entre os comentários que ouvi posteriormente.

Deitei-me na cama esgotado, porém satisfeito, sem peso nenhum na consciência. Custo de oportunidade? Eu teria se tivesse deixado de ir a Contrafernização para me deslocar ao Parque de Exposições, pagar um ingresso caro, para constatar depois que eu tinha me metido numa grande “Cilada”, título de uma música de João Mineiro & José Rico... ou seria Milionário & Marciano? Mas afinal, que dupla foi que tocou na Pecuária, mesmo?

Foto por Diego “Babidi” Silva

Escrito de Araguaína pelo bancário e estudante Thassio Fontes
_____________________________

* Sim, o Sindicato Rural de Araguaína não usa mais algarismos romanos para enumerar as edições do evento. Das duas, uma: ou perderam as contas de quantas exposições ocorreram nesses 42 anos ou estão em dúvida de como se deve escrever em algarismos romanos do número 40 pra frente. Fica a dica: XL, e não XXXX.
** Lontrino vem de Lontra, antigo nome de Araguaína, do tempo que era apenas um distrito de Filadélfia.

18 de junho de 2010

Morreram

Rememorando Drummond ao relatar a morte da Atriz Cacilda Becker, parafraseio:

A morte emendou a gramática.
Morreram José Saramago.
Não era um só. Era tantos.

saramagoc

José Saramago nunca aparece sorrindo. Mal de escritor famoso. Poucos são aqueles que esbajam bom humor fora de seus livros. O Saramago que eu li, sorria.

Poderia invocar todos os outros cânones da Literatura, poderia falar de sua peculiar prosa, poderia esmiuçar a nossa afinidade com o desenho, poderia criticar seu abandono às gramáticas e outras formas de prisão. Ou não. Poderia dizer que ele era o penúltimo comunista vivo - resta Niemeyer. Poderia falar sobre suas obras, dizer que essa sua predileção por remasterizar textos bíblicos o fez um ateu devoto. Saramago fazia sua própria bíblia. Poderia relembrar seu cabedal de ditos populares prontos à reluzir. Poderia dizer que aquele senhor já se foi tarde. Um senhor de oitenta e todos os anos que vivia numa ilha distante. Poderia dizer que é uma pena ele não acreditar em Céu (nem beleléu) para que um dia eu o encontrasse cercado de pessoinhas para o ouvir contar stórias. Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar diante da dimensão desse tamanho ocorrido. Simplesmente digo adeus ao vovôzinho que dá boa noite, fecha o livro, e se vai.

17 de junho de 2010

No Tocantins o trabalho não para

freidamião

Maespertoquevocê

16 de junho de 2010

Geisel Arruda

Untitled-1

- O fim da ditadura

15 de junho de 2010

Frutinha

melancianãosecomesó

12 de junho de 2010

___(Vi)elas

hqzinha1hqzinha2