18 de agosto de 2014

O dia em que o rock foi a maçã que transformou Paraíso no inferno

No fim da tarde de sexta-feira, 15, Thiago Tubarão, Maurício Selagi, Caio Rps e eu chegamos em Paraíso do Tocantins a tempo de ver em uma das principais avenidas o carro de som anunciando os shows do Mata-Burro (Palmas), Makakongs 2099 (Brasília) e Few Coins (Paraíso) na praça José Torres. Era dia de rock em Paraíso!

O palco foi montado pela Prefeitura de Paraíso do Tocantins em frente a praça como atividade da Sexta Cultural, com a proposta de levar atrações culturais gratuitamente para a população. A participação do público ainda era uma incógnita pra mim até às 20h, quando ainda havia poucas pessoas, mas já tornava-se evidente uma incomum presença da combinação de jovens roqueiros e famílias em busca de lazer. Havia brinquedos infláveis, barraquinhas de crepe, tapioca e bebida.

Pouco mais de 21h, a banda local Few Coins – que nos bastidores virava Phil Collins – começa seu show. Apesar de adolescentes, na passagem de som o trio local já me chamou a atenção ao sair do óbvio tocando Buzzcocks (Ever Fallen in Love). Ainda tímidos no palco, tocaram algumas músicas autorais e covers de Nirvana, Ramones, Legião Urbana (Geração Coca-Cola) e Rodox. A banda teve três formações durante o show. Em duas, o baterista e o guitarrista se revezavam. Na terceira, outro garoto assumiu o vocal e guitarra.

Outro ponto que chamou a atenção durante o show da banda foram os seguidos toques que o guitarrista do Poetas do Caos, Fernando Rios, dava para a banda. Desde o alinhamento dos músicos no palco, regulagem do som e ainda uma leve bronca no fim do show para que os músicos recolhessem seus instrumentos no palco. Foi legal ver a banda como renovação da cena local e um músico experiente se esforçando para ajudar a banda a evoluir.

Em seguida, sobe ao palco os veteranos Makakongs 2099, preservando somente o baixista Phu como integrante da formação original de 1998. Completavam a formação o guitarrista André e Yuri Formiga na bateria. No início do show o trio já começou com um dos seus clássicos, Bota pra Lascar, e utilizou a sua experiência para provocar o público: “Nós somos a maçã e viemos transformar o Paraíso no inferno!”.

Deu resultado! Com o som marcado pelo frenético tu-pá-tu-pá-tu-pá, na segunda música já havia uma concentração de camisetas pretas agitando próxima ao palco. Na terceira música, o público roqueiro já estava suado. E assim o show seguiu com a formação de rodas em praticamente todas as músicas seguintes.

O repertório mesclou músicas de todas as fases da banda, além de algumas ainda inéditas, e o público se empolgava bastante com as letras com mensagens diretas contra grandes corporações como em McMaldade e Droga-Cola. Phu ainda foi didático ao incentivar a abstenção de votos dizendo que ele não votava e nem justificava sem qualquer prejuízo, mas não deixou de parabenizar a prefeitura do município pela realização do evento e alfinetou que era obrigação dela com aquele público.

Da mesinha em que eu estava vendendo cd, camisetas e fanzines, pude ver o rosto de cada integrante do Mata-Burro no instante antes de subir ao palco. Uns ficavam sérios e outros riam para disfarçar, mas estava nítida a ansiedade por finalmente realizar o show de lançamento do primeiro álbum. São sete anos de banda, duas tentativas frustradas de gravar o álbum às próprias custas, e O Preço Da Vida já estava gravado desde 2013.

Finalmente, o Mata-Burro sobe ao palco, e o baixista Bento acrescenta à provocação de Phu que, se o Makakongs era a maçã, o Mata-Burro trazia a cobra para transformar Paraíso no inferno de uma vez. O show começou com Porta Voz da Dor. Em pouco tempo, já estavam à vontade, com o guitarrista Thiago Tubarão se deslocando pelo palco e agitando em cumplicidade com o baterista estreante da banda, Maurício Selagi. O público se encorajava a subir no palco seguidamente para realizar o stage diving.

Como não podia deixar de ser, o repertório foi concentrado na maioria das faixas gravadas no álbum, como Mangueira Is The Solution, Fogo no Tambor, A Regra é Clara e Irmão Escolhido. As músicas eram tocadas em bloco para ninguém perder o pique. Mas a entrega era muito grande. Tanto que em alguns momentos, o vocalista Ithalo Kodó, que tinha ensaiado durante duas horas sem problema alguns dias antes, parecia que não aguentaria tocar as 20 músicas previstas.

Mais para o fim, o Mata-Burro fez dois covers, um do Cro-Mags (Hard Times) e outro do próprio Makakongs (Bota pra Lascar). Pela reação dos candangos, que estavam próximos a mim, o cover parece ter surpreendido a banda. Foi o momento de reverenciar a banda que foi influência para o Mata-Burro desde o começo. Por volta de 23h30, terminou o show.

Essa foi a primeira vez que vi um show de rock em Paraíso, e fiquei intrigado para entender por que não acontecem eventos por lá com mais frequência. Ninguém queria que aquela noite acabasse. O público permaneceu na praça mesmo com o fim da programação, e nós fomos terminar a noite no Bistrô Oficina Geral. Conversamos sobre o show, e a banda estava satisfeita. Definiram o público local como “insano”, no melhor dos sentidos. E assim eles se questionaram se os shows seguintes poderiam ser melhores do que esse.

14 de agosto de 2014

Mata-Burro lança álbum de estreia após sete anos de atividades

Terça-feira, 12 de agosto de 2014. Último ensaio da banda Mata-Burro antes dos shows de lançamento do álbum de estreia, intitulado O Preço da Vida. O baterista Maurício Selagi comenta que está nervoso porque seu primeiro show na banda será logo com o lançamento, que foi gravado pelo seu antecessor Rodolfo Japa. Isso também faz Thiago Tubarão relembrar sua entrada na banda, quando teve que tirar 16 músicas na guitarra em três semanas. Completam ainda a formação atual os remanescentes  da primeira formação de 8 de março de 2007, Ithalo Kodó no vocal e Bento no baixo.

Para promover o lançamento de O Preço da Vida, o Mata-Burro articulou uma miniturnê regional com a banda candanga Makakongs 2099 em Paraíso do Tocantins, Palmas e Gurupi, nos dias 15, 16 e 17 de agosto, respectivamente. Além dessas datas, já tem shows agendados em Brasília, Goiânia e Imperatriz, como pode ser conferido ao fim deste texto.

Fotos e colagem: Daniel dos Santos

Apesar de ser o álbum de estreia em sete anos de banda, O Preço da Vida vem com cara de segundo álbum, no mínimo. Isso porque em 2009 e em 2011, a banda realizou duas tentativas de gravar o álbum em Brasília, com produção de Phu (Makakongs 2099). Porém, ocorreu problema com as gravações e todo o material gravado e o investimento feito foram perdidos.

- A banda quase acabou por causa disso. Passamos o ano de 2012 inteiro sem fazer nenhum show. Em 2013, a gente decidiu fazer músicas novas, clipe novo e largar as antigas. Fazer músicas novas é a parte mais legal. Não sei como que o Iron Maiden aguenta tocar as mesmas músicas há tanto tempo – explicou Kodó.

Assim como toda experiência negativa na vida, nem tudo foi desperdiçado. Ainda segundo o vocalista, as tentativas de gravação em Brasília serviram muito de aprendizado, e as dificuldades desafiaram a banda para que o disco saísse a qualquer custo.

- Todos os problemas que tivemos dessa vez, inclusive com grana, resolvemos da seguinte maneira: "foda-se essa porra, esse disco sai! Já tem muito tempo que estamos correndo atrás disso.. mete ficha e depois vemos como resolver!" – afirmou.

Mesmo com a ausência das músicas antigas em O Preço da Vida, algumas delas estão no repertório de ensaio e devem continuar nos shows, como Armas de Destruição em Massa e Humanos, da demo Calango Sobrevivente, e Mendigo, da demo Terror e Redenção. Portanto, as 13 músicas do disco são inéditas e foram gravadas no Idea Studio, em Palmas, ainda em 2013. Já foram divulgados os videoclipes de A Regra é Clara e Santa Maria.

Último ensaio da banda antes do lançamento Foto: Daniel dos Santos

O Mata-Burro já tocou nas principais cidades e festivais do Tocantins, e circulou por Brasília, Goiânia, Uberlândia e Belém. Mas segundo Ithalo, talvez as atividades da banda quando não está nos palcos seja o que de melhor tenha oferecido para o cenário local. Com os princípios do faça você mesmo, desde 2008, a própria banda realiza o Burrada Rock Festival, com a participação de bandas locais e convidadas de fora do Estado. O intercâmbio é recíproco, e isso possibilitou a circulação da banda em shows de hardcore em outros estados.

Em 2013, a banda também passou a realizar abertamente o evento A Rua se Mistura, com a proposta de ocupar uma praça em Palmas eventualmente e promover cultura, esporte e lazer para o público jovem. Veja mais sobre isso no texto que fiz sobre a primeira edição do evento aqui. Sobre as intensas ações da banda extra-palco, Ithalo afirma o seguinte:

- Somos banda o tempo todo! Tentamos estar presentes nos outros shows, fazer shows, fazer com isso aqui cresça. Aprendemos isso nos rolês que demos fora. As bandas, principalmente nos sons podreras, trabalham pra coisa não morrer e essa é nossa intenção aqui. Creio que foi o que abriu mais espaço pra nós. Existem milhões de músicos melhores, mas na correria nós somos pilhados. hahahahaha – definiu.

Como prova dessa dedicação dos integrantes da banda, ao fim do último ensaio presenciei a conversa e a ansiedade deles para que ocorresse tudo certo no lançamento. A três dias do primeiro show da miniturnê, eles se preocupavam com a chegadas do cds, a confecção das camisetas e do banner de palco, buscar o Makakongs no aeroporto e levá-los para Paraíso, além das entrevistas para promover os shows de lançamento. Enfim, uma banda que trabalha muito e resiste no cenário local simplesmente por continuar existindo, e especialmente com som autoral.

AGENDA DE SHOWS DO MATA-BURRO:

agenda mb

29 de janeiro de 2014

Exame constata lesão no atleta Daniel dos Santos

O atleta amador Daniel dos Santos teve lesão confirmada no pé esquerdo após a realização de exames médicos nesta quarta-feira, 29. A ultrassonografia identificou um trincamento no primeiro metatarso do pé esquerdo. O craque canhoto reclamava de dores desde a última pelada na sexta-feira,24, quando após um efetuar um cruzamento não teria mais conseguido chutar ou dominar com o referido pé.

- Parecia que eu tinha chutado uma pedra. Mas continuei no jogo. Fui no sacrifício para ajudar a equipe. - reclamou o veloz atacante.

Seu amigo e companheiro de equipe, Ciro, ficou surpreso com a lesão.

- Na hora achei que fosse frescura dele para disfarçar que tinha errado o cruzamento. – confessou Ciro.

ultrassom daniel

No entanto, as dores não passaram após a partida e o jornalista nas horas oficiais decidiu fazer exames e procurar um ortopedista. No primeiro momento, o raio-x não apontou fratura e fez com que o médico suspeitasse de uma ruptura parcial dos ligamentos, lesão possivelmente mais grave que a fratura. Porém, após a ultrassonografia foi constatada a lesão no osso. O ortopedista explicou que o tratamento não é cirúrgico.

- Ele (Daniel) precisará ficar afastado dos gramados sintéticos por 21 dias. Neste período, utilizará um apoio acolchoado para não forçar essa parte do pé na hora de caminhar.

pé com acessório

Com isso, o atleta deve retornar aos jogos somente no fim de fevereiro. Conhecido por jogar descalço, o atleta acredita que a lesão ocorreu de fato na semana anterior, quando em uma tentativa de roubada de bola, chutou o calcanhar do adversário.

- Pelo que o médico me falou, a lesão deve ter ocorrido quando chutei o calcanhar do colega, só que o osso permaneceu alinhado. E só no segundo futebol depois da lesão é que durante um simples cruzamento, acabei desalinhando o osso e sentindo as dores.

Embora o médico afirme que a lesão poderia ser evitada caso o atleta jogasse calçado, Daniel garante que não comprará chuteiras.

- É meu estilo. Faz parte do meu futebol moleque. Cresci jogando no asfalto quente nas ruas de Taquaralto. – afirmou com um sorriso maroto escapando.

Sua mãe comentou a teimosia do filho.

- Depois dessa lesão grave, queria muito que ele atendesse um apelo de mãe e largasse o hobby. Poxa, lembro quando o pezinho cabia na minha mão. Eu beijava ele.. era cheiroso, macio... Agora essa violência maltrata aquilo que tanto cuidei.

Portanto, o atleta deve voltar a jogar - descalço - às terças e sextas pelos gramados sintéticos da cidade de Palmas. Por coincidência, nos mesmos dias em que o time do coração, Vasco da Gama, também entrará em campo, já que o time disputará o campeonato brasileiro da série B. Engana-se quem pensa que Daniel tem motivos para lamentar que joga enquanto o jogo do Vasco é transmitido pela TV.

- É um sentimento diferente. Como se eu entrasse em campo junto com a equipe. – concluiu.

3 de maio de 2013

Déspota

 

déspota

 

 

 

 

 

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26 de março de 2013

Lançamento do Fanzine Nonada

 

Os Cabrones Logo Fotozine Nonada - Foto Emerson Silva (17)Fotozine Nonada - Foto Emerson Silva (3)Fotozine Nonada - Foto Emerson Silva (14)Fotozine Nonada - Foto Emerson Silva (2)Fotozine Nonada - Foto Emerson Silva (1)

Fotos: Bento

Coletivo Os Cabrones

Há muito tempo, quer dizer, em todo o tempo, nós, artistas, vimos e vemo-nos amargar atrasos nos mais variados sentidos. Aqui no Tocantins o cenário é bem mais crítico. Ser artista no Brasil é e sempre foi complicado. Em nosso estado tal situação pode ser somada e multiplicada por dois. Em todos os segmentos, em todas as vertentes, parece ser imperativo de que, por estas bandas, cada um deve ficar na sua, no seu quadrado, cuidando da sua vidinha, do seu trabalho, dos seus projetos e que o resto... todo o resto que se vire e dê seu jeito, ora bolas.

Mas a prática vem mostrando que esse modelo de “cada um na sua” não tem dado muito certo. A maioria dos projetos nem sequer chega a sair do papel, e quando sai, boa parte deles sofre de limitações técnicas, que, num contexto de cooperativismo (em que temos  pessoas contribuindo com as suas potencialidades e saberes para o desenvolvimento de determinada coisa) muito certamente, esses problemas se existissem, seriam numa escala bem reduzida.

“Foi numa viagem a São Paulo, em dezembro de 2011, que percebi o quanto poderíamos agir diferente no Tocantins (Com a criação do coletivo Os Cabrones, para unir desenhistas, ilustradores, cartunistas e quadrinistas residentes não só em Palmas, mas no Tocantins de um modo geral). Num determinado evento, conheci artistas e coletivos. O argumento deles foi unânime: lá, as dificuldades eram até maiores, pelo volume de artistas e competitividade do mercado, mas a diferença estava no fato de que eles se uniam para batalhar por direitos comuns”, pontuou Thiago Ramos, jornalista, cartunista e um dos fundadores do coletivo “Os Cabrones”.

“Essa ideia de se juntar por aqui já vinha sendo nutrida em separado. A partir da 1° Exposição de Quadrinhos e Ilustrações de Palmas, no início de 2013, que foi coletiva, é que finalmente decidimos começar um grupo de trabalho, dividindo funções e estabelecendo metas. A primeira deliberação foi a criação de um fanzine coletivo, e a partir dele, que funcionaria como portifólio e espaço de experiência, onde também adquiríamos ritmo de trabalho, iríamos ganhar solidez para encabeçar outros projetos solo”, disse Daniel dos Santos, jornalista e membro do grupo.

 Fotozine Nonada - Foto Emerson Silva (33)

Foto: Bento

O fanzine Nonada

O produto coletivo em questão chama-se “Nonada”. Este zine sairá, a princípio, de forma independente, com seus exemplares obtidos por meio de fotocópias. Produzido de maneira artesanal, com contribuições dos membros do coletivo e de quem mais se interessar. No formato de folhas A4 dobradas ao meio, terá uma periodicidade mensal e será comercializado a preço simbólico, em pontos diversos de Palmas e eventos também pelo interior, a medida que as cópias dos exemplares sejam suficientes.

A primeira edição - número zero - tem tiragem inicial de apenas 200 exemplares e tem poemas, quadrinhos e ilustrações dos colaboradores Adriano Carvalho, Ciro Gonçalves, Daniel dos Santos, Diogo Teixeira, Flamarion Cunha, Geuvar Oliveira, Marcus Mesquita, Paulo Roberto e Thiago Ramos. O lançamento será nesta quarta-feira, 27, no Açaí.com localizado na Av. LO 05, 306 Sul (antiga Arse 32) em Palmas. O fanzine será vendido no local por R$ 3, e as pessoas também podem fazer contato através da página do coletivo no facebook.

 

FANZINE NONADA 2013

Capa: Flamarion Cunha

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13 de março de 2013

As ruas se misturaram em Palmas e isso precisa continuar

Uma semana após a morte de Chorão, por coincidência, aconteceu em Palmas-TO um evento com a cara da cultura representada pelo Charlie Brown JR: rock, rap e skate. O evento A RUA SE MISTURA fez com que a Praça do Bosque dos Pioneiros, que normalmente é quase deserta durante a semana, recebesse mais de 100 pessoas na noite desta quarta-feira mesmo após a chuva.

galera

O público, formado em sua maioria por jovens, matou a fome por um evento simples, realizado basicamente pela força de vontade que Ithalo da Silva (vocalista da banda Mata-Burro), loja Rasta Skate Shop e muitos amigos tiveram para fazer com que acontecesse.

Na programação, shows de bandas de rock, grupos de rap, batalhas de mcs, arte feita ao vivo pelo tatuador Darte, entre outras ações espontâneas do público como a prática de esportes radicais: skate, longboard, bicicleta e slackline. Com tudo isso, era quase impossível não se contagiar e sentir vontade de dar uma voltinha de skate, arriscar se equilibrar no slackline ou simplesmente conhecer gente nova, confraternizar e se divertir.

lá sustenidoE também foi espaço para que jovens empreendedores montassem suas barraquinhas e dessem as caras com seus trabalhos como a menina da Lá Sustenida que vende acessórios femininos delicados e estilosos, o punk Éfren Ramones com sua Savana de camisetas de rock, e a marca de camisetas 420 também com camisetas da cultura jovem. Embora sem expôr seus produtos, ainda estiveram presentes representantes de outras marcas conhecidas do público jovem palmense como a Serreal e a Metrô Urbano.

slackApesar de ter seu público bem definido, o evento também atraiu a curiosidade de algumas pessoas que saíam do trabalho e apareceu como uma opção bem família com crianças brincando acompanhadas dos pais. Com toda essa diversidade no público, o evento já provou sua importância e precisa continuar. A próxima edição já está confirmada para a quarta-feira, 20, na semana seguinte.

Não é todo dia que se reúnem tantas ideias boas e gente com vontade de fazer acontecer em Palmas. Um evento aberto como esse merece muitos incentivos e tem que acontecer em outros pontos da cidade (Taquaralto, Jardim Aureny, Vila União, Taquaruçu, etc…). Se não corre o risco de acontecer o mesmo que já houve com outros tantos eventos culturais não valorizados na capital, e que foi bem definido nas palavras da dançarina Meire Maria no excelente documentário sobre a identidade cultural de Palmas – Dando o Norte – : “Nunca deixam de ser eventos. E ventos…”.

Parabéns e muito obrigado a todos. Vamos levar mais gente para os próximos.

A juventude palmense de todas as regiões é muito melhor do que o álcool ou o crack.

Fotos retiradas do álbum do evento na página da Rasta Skate Shop.

22 de fevereiro de 2013

Literatura de banheiro

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Quem nunca leu no banheiro não sabe o que é o prazer da leitura.

Desde pequeno leio alguma coisa quando vou besuntar a porcelana. ”Mãããe, traz uma ‘bibitinha da Mônquina’” e lá ia folhear uma revistinha inteira sem nem ao menos saber fazer um “o” com um copo. “Mãe, acabei!”, isso valia para as duas obras. Tava “tchau” para o coco e ia continuar a brincar.

Minhas lembranças e contos de infância se misturam com as do meu irmão mais velho. Porém coloco aqui como sendo todas minhas por mera conveniência estética.

Com o passar dos anos detectei um padrão para esse tipo de literatura. Uma boa literatura de banheiro é aquela que dispõe uma leitura rápida, concisa e profunda, daquelas que bate no fundo e respinga na bunda. Tal qual haicais de porta de banheiro público, um exemplar de literatura de banheiro tem que te fazer passar o tempo de alguma forma leve.

A necessidade de dormir e a necessidade de fazer necessidades se unem no prazer da leitura. Assim como o famigerado livro de cabeceira, o objeto da literatura de banheiro é aquela obra que te acompanha na sua privacidade e aos poucos vai se tornando um clássico (CALVINO, 2004).

Eis alguns dos meus clássicos:

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O Livro da Filosofia: as grandes idéias de todos os tempos

Anna Hall, Sam Atkinson, Cecile Landau, Andrew Szudek, Sarah Tomley - 352 páginas - Editora Globo.

Breve panorama da obra de grandes filósofos antigos e contemporâneos com esquemas explicando suas principais idéias e influências. Tudo isso com uma diagramação inteligente e criativa e ilustrações precisas.

Veja também: O Livro da Psicologia.

 

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As Cobras: antologia definitiva

Luis Fernando Veríssimo - 200 páginas – Objetiva.

As cobras dão pitaco sobre tudo: futebol, política e religião. Humor pastelão, consciente e filosófico de Luís Fernando Veríssimo nesse formato pouco conhecido do escritor (e cartunista).

Veja também: A cabeça é a ilha.

 

 

1021601-250x250O Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr Fernandes

Millôr Fernandes - 195 páginas - L&PM POCKET.

A capa logo alerta “Documento que revolucionou todo o pensamento ocidental! Um verdadeiro orgasmo filosófico”. De aforismos a conversas no Bar do Veloso, estão editadas diversos pensamentos desse que foi um dos maiores livre-pensadores brasileiros.

Veja também: Millôr Definitivo: a bíblia do kaos.

 

 

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Dicionário de Sentenças Gregas e Latinas

Renzo Tosi - 904 páginas - Martins Fontes.

“10.000 citações da Antiguidade ao Renascimento no original e traduzidas com comentário histórico, literário e filológico”. Se você quer mais informações que essa para ter interesse no livro, você é indignus est qui illi calceos detrahat.

Veja também: Dicionário Houaiss Ilustrado: Música Popular Brasileira.

   

 

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Ostra feliz não faz pérola

Rubem Alves - 280 páginas - Planeta do Brasil.

O autor adverte que aforismos, bem como as idéias são como pássaros que pousam sem de repente no seu ombro. É preciso logo tomar nota antes que voem e nunca mais apareçam. Rubem Alves fez isso e podemos conferir belos passarinhos que ele nos pinta com seus textos.

Veja também: Educação dos Sentidos e Mais...

 

 

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17 de fevereiro de 2013

O abraçaço quando Caetano e eu nos encontramos

Para começar, é honesto que eu revele: nunca fui fã do Caetano Veloso. Nunca tinha conseguido ouvir um álbum dele do início ao fim. As músicas antigas não comunicam comigo e as que mais tive contato foram impostas a mim pela mídia - Sozinho e Você não me ensinou a te esquecer - uma foi tema de novela e outra de filme, e nenhuma é de autoria dele. Teve Leãozinho também, que por conta do cabelo já me associaram a ela…daniel-veloso

Em 2004 ele tentou o primeiro contato comigo. Eu tinha 15 anos, ouvia muito Nirvana e ele lançava um álbum com uma versão de Come as you are. Foi ousado da parte dele e nosso contato parecia promissor. Mas quando ouvi sua interpretação, foi constrangedor. Dois anos depois, Caetano lançou a sua proposta de fazer rock com o álbum . Como ele tinha feito aquilo com o rock do Nirvana, preferi não descobrir o que ele chamaria de rock. Assim perdi a pista que ele deixou para uma nova tentativa de nos encontrar. Para Caetano, o constrangimento ao se arriscar no rock não era novidade. Sua primeira experiência de reprovação foi em 1968 ao tocar É proibido proibir com Os Mutantes e ser vaiado pelo público nacionalista. Vale muito conferir isso aqui!

Para aumentar minha repulsa, incomodava ser obrigado a vê-lo em tantos documentários musicais, como se para que o artista documentado tivesse relevância, fosse necessária a confirmação pela voz doce de Caetano. Foi assim no documentário sobre Raul Seixas. Por que Raul Seixas precisa de avaliação de Caetano?! Ter opinião para tudo é seu principal defeito e isso faz dele um controverso personagem midiático. Caetano Veloso é um artista que gosta de estar conectado a tudo o que está acontecendo. Gosta de estar presente no presente. Isso é também sua grande virtude como artista, pois não é um morto-vivo a contemplar o passado como muitos dos seus pares.

por Arnaldo Branco


O tempo passa e as coisas mudam. Então, no fim de 2012 foi lançado Abraçaço, álbum que encerra a trilogia rock com a banda Cê. E este chegou ao meus ouvidos.

Caetano tem fases, e dependendo da música ou do álbum, as referências variam de ritmos brasileiros, africanos a música americana. No entanto, a bossa-nova é o elemento que permeia sua obra desde o início. Se 40 anos de carreira fazendo referência não é homenagem suficiente, o novo álbum começa explícito com a música A Bossa Nova é Foda.

A bossa-nova já é velha, mas Caetano e banda Cê são modernos e ousados. Tom Zé afirmou em seu documentário que o rock brasileiro é rock traduzido. Portanto, nada mais conservador do que ser uma banda de rock. Mas Caetano e banda Cê tocando rock não traduzem, eles experimentam e inventam. Não se confortam em agradar fãs antigos. Eles sabem que estão assumindo um risco. E essa primeira música mostra isso: reverencia João Gilberto nas entrelinhas de uma composição de melodia estranha e adorável.

A segunda música é a faixa título. É a canção que gruda. A melhor para apresentar este álbum a alguém. Foi por ela que fui fisgado quando alguém indicou na internet. Cordas, bateria e sua marcante voz tentam agradar o ouvinte do início ao fim. Embora tenha ares mais comerciais que a média do disco, possui um solo de guitarra ruidoso, inesperado para músicas de trabalho. Não precisa falar muito dela. É só ouvir e Abraçaço.

Estou triste é uma música sincera e melancólica. É a beleza da tristeza. Cantada em primeira pessoa, com a voz baixa e sofrida, poucos acordes de violão e pequenas aparições de outros instrumentos. É uma canção em que menos é mais. O artista está pelado. Feita para ouvir sozinho. Me lembra o álbum Loki, de Arnaldo Baptista, o mais triste que conheço. Este trecho resume bem o clima: ♫ Estou tão triste e o lugar mais frio do Rio é o meu quarto. ♫ É incrível como um dos sentimentos mais indesejados produza obras humanas tão belas… e ainda ameniza a dor.

Ao que tudo indica, a canção O Império da Lei certamente surgiu por influência da banda Do Amor, projeto paralelo dos músicos de Caetano cuja proposta é tocar diferentes ritmos brasileiros. Neste caso, exploraram a musicalidade paraense e garantiram uma canção dançante no álbum junto a Parabéns. Não costumo apreciar músicas que buscam ser regionalistas sem vocação, especialmente quando o artista em questão não tem nenhuma identificação com a região. Fica caricato. Mas Caetano se esforça e usa seu defeito/qualidade aqui para comunicar sobre a impunidade pelo qual a terra do calipso e tecnobrega é conhecida: ♫ O império da lei há de chegar no coração do Pará! ♪ Está no grupo das canções “menores” de Abraçaço, que para mim corresponde à metade do álbum.

Entre as músicas “maiores”, nem todas serão marcantes na vasta obra de Caetano, mas a necessidade dele se comunicar e se posicionar sobre um assunto resulta aqui em uma excelente canção que divide opiniões desde o seu título: Um Comunista.

Quase 30 anos após a ditadura brasileira, restou o cinismo e a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante. É necessário um senhor de 70 anos atento ao mundo a volta e que presta atenção no que não está à vista que resgate a essência de uma ideologia para nos alertar que as calçadas ainda estão encardidas e multidões apodrecem.

Sem desmerecer os instrumentos, mas aqui eles são como a trilha sonora de um filme. Oferecem o ritmo dramático que a narrativa pede, e durante mais de 8 minutos Caetano usa todo o poder de sua voz e poesia para através da biografia de Marighella relembrar a época em que havia esperança. E assim como Estou Triste, esta é uma música confessional:

O baiano morreu
Eu estava no exílio
E mandei um recado:
"eu que tinha morrido"
E que ele estava vivo,
Mas ninguém entendia
Vida sem utopia
Não entendo que exista

Assim fala um comunista

Embora não goste de heróis da vida real e nem de “ismos”, considero fundamental manter a esperança e vontade de mudar o mundo para melhor como razão existencial. Portanto compreendo essa música mais como uma reverência às ideias de quem guardava sonhos do que como uma mera referência a um líder político de esquerda assassinado pelos milicos. Assino a utopia.

Desde Abraçaço, fui atrás de Cê (2006), Zii e Zie (2009), A Foreign Sound (2004) e Bicho (1977), li entrevistas e assisti o documentário Coração Vagabundo. Caetano mudou. Eu mudei ao ponto de querer conhecê-lo melhor. Este texto é sobre ele e também é sobre mim. E a pista que ele deixou para mim quando lançou Cê estava na primeira frase do álbum: ♫ Você nem vai me reconhecer quando eu passar por você. ♫

Sei que ainda vou me irritar muito ouvindo opiniões dele sobre qualquer assunto, mas como artista - quando não está com Ivete ou Maria Gadú -Caetano está vivo. Para o bem ou para o mal, Caetano é foda.